A fabricação do Queijo da Canastra
abrange várias fases. Em um desses estágios, é introduzido o 'pingo', uma
solução altamente concentrada em microrganismos que metabolizam a lactose,
conferindo características sensoriais específicas desse produto. Os micro-organismos
presentes no 'pingo' metabolizam os açúcares e outras moléculas alterando a
composição química do queijo em um processo conhecido como maturação. A partir
da análise desta dinâmica microbiana no processo de produção do queijo originou
um estudo conduzido pela Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de
São Paulo (FCF-USP), o qual propõe uma abordagem inovadora e multidisciplinar,
conectando os aspectos químicos e biológicos às características sensoriais do
produto.
Essa pesquisa faz parte de uma série
de estudos dedicados aos queijos artesanais brasileiros conduzidas por vários
pesquisadores do Brasil no âmbito do Food Research Center (FoRC), o primeiro
centro de Ciência dos Alimentos e Nutrição do Brasil, é conduzida pelo
pós-doutorando Luciano da Silva Pinto sob a supervisão da professora Bernadette
Franco e do professor Uelinton Pinto e recebe apoio financeiro da Fundação de
Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP). Trata-se de uma abordagem
inovadora, pois as diversas pesquisas relacionadas a esse tópico tinham uma
abordagem separada entre a química e a microbiologia, devido à natureza
distintiva das especializações envolvidas e que neste projeto elas estão sendo
integradas para conseguir compreender desde a sucessão microbiana até os
compostos que conferem as características únicas destes queijos.
O principal objetivo do trabalho
consiste em estabelecer uma ligação entre a microbiota presente no 'pingo' e as
características finais do Queijo da Canastra, uma conexão muitas vezes referida
como 'assinatura' química ou biológica. Tais pingos foram obtidos com auxílio
do Campus Bambuí do Instituto Federal de Minas Gerais (IFMG) para a coleta na
Serra da Canastra (MG) e, a fim de atingir o objetivo, foi adotada uma
abordagem conhecida como multiômica onde estão sendo estudadas as amostras
desde o nível genético ao metabólico visando correlacionar a atuação dos grupos
microbianos com as características do queijo através do período de maturação.
Nesse método, serão identificadas
moléculas na composição do queijo que se relacionam com as sensações gustativas
e olfativas percebidas ao consumi-lo. Posteriormente, será feito o rastreamento
do microbioma envolvido na metabolização dessas moléculas. Ao concluir a
pesquisa, portanto, espera-se identificar os tipos de 'pingo' que geram esses
resultados específicos, ao qual possibilitará um avanço significativo na
criação de um sistema de controle de qualidade para o Queijo da Canastra.